“Faça-se a luz!”: O mais importante antes de qualquer investimento

No capítulo 1, versículo 3, do livro de Gênesis, Deus ordena que “Faça-se a luz! E a luz foi feita”.

Este foi o primeiro ato após a criação do céu e da terra. A partir da luz é que todo o resto foi se definindo.

É sobre a “luz” em investimentos que quero conversar.

(Essa última frase ficou muito piegas, eu reconheço).

Em um dia de semana você acorda cedo para ir trabalhar. Levanta-se, vai ao banheiro, lava o rosto… Enfim, faz a sua rotina matinal.

Você é do tipo de pessoa que toma café da manhã? Se não for, considere adotar este hábito. O café da manhã é a principal refeição do dia. Afirmo isso por observação empírica. Não sei se há comprovação científica.

Você sai para o trabalho.

Ao chegar no local de trabalho, alguém de um cargo de liderança te chama para conversar. Provavelmente essa conversa contará com mais de uma pessoa da empresa. Há sorrisos, mas o clima é nitidamente pesado, denso.

Depois da brevíssima conversa, o seu status profissional mudou para “Open To Work”. Você foi demitido.

Espero que esse exemplo não tenha te gerado nenhum gatilho emocional. São coisas da vida.

Ao voltar para casa, você vai digerindo toda aquela nova realidade. Fazendo contas, relembrando contatos profissionais, racionalizando a questão ao pensar que talvez tenha sido algo positivo, pois estava insatisfeito mesmo.

A sua atividade profissional é bem específica e talvez você tenha dificuldade de realocação. Pode ser que não demore, pode ser que demore. Você não tem controle sobre isso.

Você está pensando em mil coisas ao mesmo tempo e um dos pensamentos que surge rapidamente é sobre o dinheiro para os próximos dias.

Por que ter caixa para situações imprevistas?

Utilizei uma situação de perda de emprego porque é algo que desestrutura a vida de qualquer pessoa, mas você pode argumentar dizendo que você é concursado.

Uiii.

O exemplo que apresentei poderia ser qualquer situação “cisne negro”, ou seja, aquelas coisas que acontecem e que não havíamos previsto. Desde algo mais grave, como um tombo em que você sofreu uma fratura e precisa passar por uma cirurgia, até algo mais simples, como ter o celular roubado ou alguém ter batido no seu carro.

No geral, trata-se de todas aquelas situações em que você não pode esperar até o próximo salário (com exceção do exemplo que citei sobre a perda de emprego, porque neste caso você não terá um próximo salário rs).

Ser acometido por alguma situação desta natureza pode ter um impacto muito grande na sua vida, para as situações mais graves, ou um impacto não tão dramático assim, para as situações mais simples. Mas, o fato é: você precisará lidar com algo que surgiu de repente e com urgência.

Se você for uma pessoa que não tem uma poupança ou uma carteira de investimentos, terá que recorrer ao cartão de crédito (se tiver como pagar as contas nessa modalidade), o que vai gerar uma fatura alta para o seu eu-do-futuro pagar, ou então recorrer ao cheque especial ou empréstimo, que também irá te onerar no futuro, além dos juros desnecessários.

Se o seu caso for um pouco diferente da pessoa que não tem nenhuma poupança e você possui dinheiro investido, a sua situação é consideravelmente mais confortável, concorda? Nesse caso, é um pouco diferente, de uma maneira positiva, mas você ainda pode estar em uma situação delicada.

Se os seus investimentos estiverem em ativos sem liquidez, ou que têm volatilidade (oscilação) e estão passando por um momento de baixa, você terá que recorrer a vendas com prejuízo. O impacto nos seus investimentos pode ser alto e é comum, principalmente para quem está na fase de construção de patrimônio, esse impacto te fazer perder meses ou anos de dedicação, comprometimento e consistência.

Agora vou usar uma frase de vendedor cafona: A boa notícia é que para todos esses problemas existe uma solução.

Não vou te vender nada. O que eu quero é te apresentar o conceito de Reserva de Emergência. A seguir vou tentar trazer tudo o que é importante saber esse tema.

O que cargas d’agua é a Reserva de Emergência?

Indo direto ao ponto: é um valor que você tem disponível justamente para essas situações emergenciais.

Em investimentos há diversos tipos de risco. Para a Reserva de Emergência vamos nos atentar ao risco de liquidez, risco de crédito e risco de mercado.

O risco de liquidez é referente a característica de conseguir transformar algo em dinheiro de maneira rápida. Um CDB com liquidez diária tem uma liquidez alta. Um imóvel tem uma liquidez baixa.

A característica mais importante da Reserva de Emergência é ela ter uma liquidez alta. Ou seja, esse valor precisa estar alocado (ou “investido”) em algo que você possa transformar em saldo na sua conta corrente rapidamente. Se possível, na hora.

A outra característica de suma importância para esse valor é a segurança. É imprescindível que quem estiver com o seu dinheiro (o banco que emitiu o CDB, o fundo de investimentos com liquidez diária, o Tesouro Nacional etc.) seja capaz de te pagar. Esse é o risco de crédito. Se o emissor do título for sólido, o risco de crédito é baixo.

O risco de mercado diz respeito a volatilidade. Por exemplo, uma ação possui um risco de mercado alto, pois o preço de uma ação pode oscilar (subir ou descer) bastante.

Um risco baixo para estes três pontos (risco de liquidez, crédito e mercado) é o mais importantes para a Reserva de Emergência.

E a rentabilidade?

A rentabilidade para este valor tem uma importância secundária. Até porque esse é um dinheiro que você usará com certa frequência, sem tempo para “amadurecê-la”.

Qual o valor ideal para a Reserva de Emergência?

A resposta para essa pergunta é muito pessoal.

Uma boa base para chegarmos à resposta é algo entre 3 e 6 meses dos seus custos mensais.

Continha simples mesmo. Se os seus gastos mensais giram em torno de 5 mil reais, uma reserva de emergência básica deve ser algo entre 15 e 30 mil.

Porém, o meu objetivo aqui é te ajudar a tomar decisões de acordo com a sua necessidade.

No exemplo que apresentei sobre a perda de emprego, caso a sua atividade profissional seja muito específica, você pode demorar para se realocar profissionalmente e um montante maior faz sentido.

Caso você seja concursado (“Uiii”) a sua reserva pode ser menor.

Menos que 3 meses dos seus custos mensais talvez te faça passar sufoco com um gasto mais alto, e mais de 6 meses pode ser um valor que talvez você não use. Esse valor excedente pode ser aplicado na sua carteira de investimentos propriamente dita, objetivando um retorno melhor.

Você precisa definir o montante ideal para a sua realidade, porém, considere se está sendo conservador ou arrojado demais na sua primeira resposta e reflita sobre ela. No final das contas, é você quem precisa decidir por você.

Onde deixar a Reserva de Emergência?

Como dito anteriormente, a Reserva de Emergência precisa ter liquidez, a garantia de que o emissor vai conseguirá te pagar ela e não ter volatilidade. Mitigar ao máximo o risco de liquidez, o risco de crédito e o de mercado (volatilidade).

A Reserva de Emergência precisa ser um ativo de renda fixa pós-fixada (que acompanha a Selic ou o CDI).

As opções mais comuns são:

CDB pós-fixado com liquidez diária de bancões: Aqueles títulos emitidos por bancos grandes (os 4 principais que temos), pois aqui você tem a liquidez que precisa e a segurança de que o emissor do título irá te pagar. É interessante evitar deixar esse valor em bancos menores ou fintechs, pois o risco de crédito (de receber o valor) acaba sendo maior do que o risco de um banco grande honrar o pagamento;

Fundos com liquidez diária: Fundos de investimentos em renda fixa pós-fixada com liquidez em D+0.

O Tesouro Selic é comumente apontado como uma alternativa para a Reserva de Emergência, porém não é incomum o Tesouro Direto (plataforma que disponibiliza o Tesouro Selic) fechar para negociações. Portanto, esse ativo desrespeitaria a questão da liquidez.

Há a possibilidade de o Tesouro Direto disponibilizar a negociação dos títulos pós-fixados 24/7. Porém, enquanto ainda não temos isso, o ideal é evitar essa aplicação para tal finalidade.

Agora, a minha sugestão para evitar estressse, é considerar a Poupança como Reserva de Emergência.

Isso mesmo. A malquista poupança.

Pode parar um pouco para digerir esta informação.

É uma opinião impopular 1) por causa da rentabilidade e 2) porque ela é muito endemoniada pelos analistas e consultores.

Sobre o primeiro ponto do parágrafo anterior, a rentabilidade, ela pode ser menor, mas, lembre-se: o objetivo desse valor não é o retorno, já que possivelmente você utilizará a Reserva com certa frequência. No frigir dos ovos, essa frequência de resgate comprometeria também a rentabilidade em outras aplicações por causa dos impostos.

Sobre o segundo ponto detrator citado anteriormente (não ser popular nas recomendações do mercado), a poupança não gera comissionamento para quem te recomendar ela. As críticas sobre a rentabilidade são reais, mas o fato de ela ser um produto “que não dá retorno para o vendedor” tem um peso relevante para ela não ser recomendada.

A poupança atende perfeitamente o quesito de liquidez: pode ser resgatada fora do horário comercial e aos finais de semana.

Para finalizar…

A Reserva de Emergência é imprescindível e deve ser a sua prioridade caso ainda não tenha uma carteira de investimentos. Focar em montá-la primeiro, antes de começar a se aventurar em outras classes de ativos, permitirá que você durma tranquilamente, protegido contra eventos não planejados.

Caso já tenha uma carteira de investimentos e não tem esse valor reservado para imprevistos, foque em construi-la o quanto antes.

Todos os tipos de investimentos que existem podem se aplicar ou não a você. Idealmente, um investidor deve investir somente no que conhece. Portanto, respeitando essa regra, é natural que você fique de fora de alguns tipos de aplicações. Por exemplo, se você não gosta de Fundos Imobiliários ou não entende a dinâmica da marcação a mercado em títulos prefixados, é sábio não aportar nesses ativos.

Porém, me arrisco a dizer que a Reserva de Emergência é uma regra para todos, independentemente do seu nível de conhecimento, patrimônio e renda.

Não é exagero dizer que sua vida pessoal, familiar e profissional corre sérios riscos sem esse valor reservado para emergências.

Outro ponto importante é que utilizar a Reserva de Emergência não significa falta de planejamento. Esse valor está ali para ser usado. Afinal, situações emergenciais é uma constante na vida de todo mundo.

Usou? No próximo recebimento que tiver (salário, pró-labore, dividendos etc.) direcione o valor do aporte para a reserva a fim de compensar o valor utilizado anteriormente.

Não se sinta mal por utilizá-la.

FAQ – Reserva de Emergência

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